O debate sobre a redução da carga horária em Educação Física nas escolas estaduais reacendeu discussões sobre o papel dessa disciplina na formação integral dos estudantes. A proposta, prevista na Resolução 385/2025, desperta inquietações entre educadores e especialistas, que veem a medida como um retrocesso no desenvolvimento físico, emocional e social dos alunos. Em um contexto em que o sedentarismo juvenil cresce de forma alarmante, diminuir o tempo dedicado às atividades corporais pode comprometer não apenas o aprendizado, mas também a saúde das futuras gerações.
Durante a reunião da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, diversos representantes do setor educacional reforçaram que a Educação Física vai além do esporte e da prática motora. Ela contribui para a construção de valores como cooperação, disciplina e respeito, além de favorecer a inclusão social e o combate ao bullying. A redução da carga horária, segundo os especialistas, limita a capacidade das escolas de promover experiências significativas e de estimular hábitos saudáveis desde a infância.
A preocupação também envolve a autonomia pedagógica das instituições. Muitos professores argumentam que as decisões sobre o currículo devem partir das próprias escolas, que conhecem as realidades locais e as necessidades dos alunos. Intervenções externas, como as impostas por resoluções, acabam restringindo a liberdade dos educadores e enfraquecendo a diversidade de projetos pedagógicos. A Educação Física, nesse cenário, corre o risco de ser tratada como uma disciplina secundária, quando na verdade é um dos pilares da formação integral.
Além dos impactos diretos na rotina escolar, há um temor de que a medida afete o rendimento geral dos estudantes. Pesquisas apontam que o movimento corporal estimula o raciocínio lógico, melhora a concentração e reduz o estresse. Com menos tempo dedicado à prática física, o desempenho acadêmico em outras áreas também pode ser prejudicado. Essa conexão entre corpo e mente é amplamente reconhecida pela neurociência, o que reforça a importância de manter uma carga horária adequada para essa disciplina.
Outro ponto de debate é a incoerência entre a redução da carga horária e as políticas públicas de saúde e bem-estar. O Brasil enfrenta um aumento preocupante de casos de obesidade infantil e doenças associadas ao sedentarismo. A escola é, muitas vezes, o único espaço onde crianças e adolescentes têm acesso a atividades físicas orientadas. Diminuir esse contato pode ampliar desigualdades, já que nem todos têm condições de frequentar academias ou participar de esportes extracurriculares.
Representantes de entidades esportivas e acadêmicas defendem que a Educação Física seja valorizada como ferramenta estratégica de desenvolvimento social. Para eles, o investimento em práticas corporais não deve ser visto como gasto, mas como um retorno a longo prazo para a saúde pública e para a formação cidadã. Ao reduzir a carga horária, o Estado dá um sinal contrário à promoção de uma educação completa, capaz de equilibrar conhecimento intelectual e bem-estar físico.
A discussão sobre a resolução também desperta reflexões sobre o modelo de escola que o país deseja fortalecer. Uma educação focada apenas em conteúdos teóricos tende a negligenciar aspectos fundamentais da formação humana. A aprendizagem significativa acontece quando o aluno se sente envolvido, e a Educação Física é um dos espaços mais potentes para essa conexão. O movimento, o jogo e o esporte são expressões culturais que ampliam horizontes e ajudam na construção de identidades.
Com o tema ainda em análise, a expectativa é que as autoridades educacionais revejam a decisão e escutem os profissionais que atuam nas escolas. O diálogo entre governo, conselhos e professores é essencial para encontrar soluções equilibradas. A Educação Física não deve ser tratada como acessório, mas como parte integrante de uma proposta pedagógica que valoriza o desenvolvimento pleno. O futuro da educação depende do reconhecimento de que o corpo e a mente aprendem juntos, e a escola precisa ser o espaço onde essa união acontece de forma saudável e constante.
Autor : Kyron Kleftalis
